Ela fala, interrompe, não ouve e vira as costas ou faz birra, sim birra, quando sou eu a falar, basicamente só a opinião da Inês é importante, a minha é semelhante aquele personagem que faz a alegria das gentes que vão ao futebol para o lado do Dragão, sim esse, o emplastro.
Ela desliga o telefone, bate com a porta e pronto acabou, não quer falar mais e fico ali, a falar para o boneco que muitas vezes é uma porta ou um telemóvel desligado.
O que se passa actualmente é que a Inês vive a 200km/h num dia-a-dia agitado dentro da área profissional que se formou, em reuniões e aulas, em trabalhos e mais trabalhos de formação e testes para corrigir, é um sem fim de coisas para fazer, enquanto que eu vivo a 20km/h, muito mais ocupado com os hobbies do que propriamente com o trabalho, completamente longe daquilo que estudei para me formar, mas enfim a vida é assim, as vezes não fazemos aquilo que queremos.
Mas a Inês não é a única culpada na relação…
Estive um ano a meio gás apenas a procurar trabalho ou emprego dentro da minha área, confiante que um dia mais tarde iria aparecer algo para fazer, confiante que a ajuda dos meus pais, que nunca chegou, para arranjar um emprego iria chegar, confiante que alguém dissesse um dia “Olha queres trabalhar?” fosse o meu click para a minha carreira profissional. Nada, ninguém o disse, nada apareceu, os dias foram passando e estava em casa a perder a esperança completamente preso dentro do meu próprio método estúpido de pensar que as coisas caíam do céu, enfim, ainda para mais hoje
Precisamente nesse ano já a Inês andava a pelo menos 150km/h farta de me dizer para me mexer mais, que aquilo não estava a resultar, mas sempre pensei que 5 anos a estudar para tirar um curso superior tinham algum valor, enfim, balelas!
Passado um ano percebi que tinha mesmo de me mexer, era altura de fazer algo, sob o risco de com 30 anos estar ainda a viver em casa dos meus pais e dependente deles.
Depois de uma discussão séria numas ferias o ano passado em Agosto, mais ou menos por esta altura, curioso, eu decidi fazer algo pela vida, não é que não tivesse feito antes, mas fi-lo muito devagar digamos. Enviei inúmeros currículos, fui a inúmeras entrevistas, tinha conseguido um part-time em Abril e mantive-o, ao menos isso. Obviamente que isso para a Inês não chegava ela não via nada de concreto, apesar de eu me estar a esforçar não arranjei nada, porra mas afinal o que estava a correr mal, acho que não sou assim tão incompetente, o meu currículo não é assim tão mau para alguém que é formado em gestão e línguas. No meu estágio tive a melhor nota e nos sítios onde estive a trabalhar temporariamente saí-me sempre bem, afinal o que está mal?
Desde todas estas perguntas até a uma depressão é um pequeno passo. Vivo sem saber o dia de amanhã, sem saber onde vou estar, sem saber o que fazer e esta distância da Inês mata-me!
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